A epidemia de COVID-19 em Portugal veio colocar à vista várias fragilidades do sistema de saúde, algumas já apontadas ao longo de muitos anos e outras mais claramente identificadas ao longo destes meses. O SNS, tal como a sociedade civil e as demais instituições, não estava convenientemente preparado para estas enfrentar emergências de saúde pública como a epidemia de COVID-19. Os vários anos de desinvestimento e desorçamentação limitaram os meios financeiros, os equipamentos e os meios humanos, e fizeram questionar a capacidade de resposta à epidemia.
Assim, se no início da epidemia o número de camas de cuidados intensivos e de ventiladores foi uma das principais preocupações em Portugal, com o evolver da epidemia denotaram-se importantes dificuldades de resposta das equipas de Saúde Pública na identificação e vigilância de contactos, devido ao subdimensionamento em termos de recursos humanos e insuficientes equipamentos básicos como telefones, computadores ou veículos. O Conselho Nacional de Saúde (CNS) tinha produzido já em 2017 um estudo em que classificava a verba pública aplicada em promoção da saúde e prevenção da doença como insignificante. A análise sobre os fluxos financeiros do SNS indicava que os gastos em cuidados preventivos representavam pouco mais de 1% da despesa corrente do SNS.
A pandemia tornou ainda mais óbvia a insuficiência de recursos humanos e materiais, aliados a défices organizacionais e estruturais e uma importante desigualdade no acesso aos cuidados de saúde, tanto geográfica como socioeconómica. Considerando a iliteracia marcada ao nível da promoção da saúde, a carga de doença física e mental, o envelhecimento da população e a desigualdade no acesso a respostas adequadas de saúde e sociais, uma parte importante da população era especialmente vulnerável aos impactos biológicos, psicológicos e sociais da COVID-19, e muito dependente das medidas implementadas para o seu controlo. Ainda, as dificuldades de comunicação e articulação entre os Cuidados de Saúde Hospitalares, Cuidados de Saúde Primários e Cuidados Continuados, a atávica articulação do sector da saúde com outros sectores (nomeadamente o setor social, onde se inclui a rede de IPSS e Misericórdias, que prestam apoio à população mais idosa, em particular a mais desfavorecida, através das estruturas residenciais para pessoas idosas (ERPIS) e centros de dia) e as debilidades na proteção laboral e no acesso à proteção social e económica fragilizaram também a resposta à epidemia e às suas consequências sociais e económicas.
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